A procura da felicidade é transversal a toda a história da humanidade. No entanto, as prioridades de cada geração e o conceito de felicidade mudaram ao longo dos tempos. Durante a revolução industrial, tínhamos trabalhadores que colocavam no topo da pirâmide de prioridades a sua sobrevivência e, por isso, trabalhavam horas sem fim. Na revolução tecnológica, assistimos a uma geração que via como prioritário ter um “bom trabalho”, uma “boa casa” e um “bom carro”.
Chegámos a uma nova geração, que traz consigo uma nova dinâmica. Estamos todos à procura de algo mais… À procura de um sentido, de um propósito maior, da FELICIDADE. Isto significa que, tal como nos restantes ecossistemas da nossa vida, também no mundo do trabalho procuramos um espaço seguro, onde faça sentido ocupar 8 preciosas horas de vida – já que 30% do nosso dia é passado no trabalho, que nele possamos ser o mais felizes possível!
No Happiness Camp 2023, a maior conferência sobre a felicidade empresarial da Europa, tivemos a oportunidade de ouvir Sunaina Kohli, da Asos, a falar sobre o conceito “discover the why”: Procurar entender o nosso “porquê” permite-nos chegar mais perto de um entendimento sobre as nossas próprias motivações, ações, ajuda-nos a estarmos mais alinhados com as nossas escolhas de vida, os nossos valores e objetivos, o que eventualmente nos ajudará a alcançar um maior sentimento de felicidade e sucesso.
Por outro lado, quando nos distanciamos dessas mesmas escolhas, valores e objetivos, mais stressados e ansiosos nos sentimos. Apesar de o stress ser normal, saudável e adaptativo, níveis de stress extremos, experienciados de forma recorrente, podem tornar-se incapacitantes e ter um impacto avassalador no nosso bem-estar – “Stress is like fire. Burnout is a house on fire” (Subira Jones, in Happiness Camp).
Porque devem, então, as empresas investir na felicidade dos seus colaboradores?
O impacto positivo da felicidade no trabalho, tanto para os colaboradores como para as empresas, tem sido um tópico de investigação amplamente explorado na literatura científica. Estudos mostram que trabalhadores felizes tendem a experienciar um maior bem-estar emocional, menores níveis de stress e uma melhor qualidade de vida. Isso reflete-se em maiores níveis de saúde mental dos trabalhadores e, consequentemente, numa redução do absentismo e da rotatividade de funcionários, o que resulta em economias substanciais para as empresas.
A felicidade no trabalho está também intimamente ligada à motivação, ao comprometimento e à produtividade dos funcionários – quando se sentem valorizados e satisfeitos com o ambiente de trabalho, tendem a ser mais produtivos, eficientes, criativos e inovadores. Além disso, funcionários felizes têm maior probabilidade de colaborar eficazmente, promovendo um clima de trabalho positivo.
Do ponto de vista das empresas, investir na felicidade dos funcionários não é apenas uma questão ética, mas também estratégica. Empresas que promovem um ambiente de trabalho positivo e se preocupam com o bem-estar dos seus funcionários têm maior probabilidade de atrair e reter talentos de elevada qualidade.
Como pode uma empresa potenciar a felicidade corporativa?
O salário emocional tem vindo a tornar-se um conceito cada vez mais relevante no ambiente corporativo, estando intrinsecamente ligado à felicidade no local de trabalho. Como o nome sugere, o salário emocional está relacionado com ganhos emocionais, que podem incluir produtos ou serviços que o colaborador valoriza, em conjunto com o retorno financeiro.
De acordo com estudos recentes, estes benefícios não financeiros podem promover um ambiente de trabalho positivo e satisfatório e, como alguns exemplos deste “salário emocional”, a literatura destaca:
- Reconhecimento e feedback positivo;
- Oportunidades de desenvolvimento pessoal e de carreira (formações, workshops, oportunidades de promoção);
- Equilíbrio entre a vida profissional e pessoal (horários flexíveis, trabalho remoto);
- Ambiente de trabalho positivo e cultura organizacional saudável;
- Benefícios sociais e de bem-estar (planos de saúde, programas de bem-estar, acompanhamento psicológico).
Estes e outros benefícios são fundamentais para promover a satisfação dos colaboradores e a construção de uma cultura organizacional positiva.
A relação entre salário emocional e felicidade no ambiente de trabalho é complexa, mas evidências empíricas apontam para uma conexão direta entre ambos. O estudo “Happiness Works” sugere que os colaboradores que recebem benefícios emocionais tendem a faltar menos ao trabalho (24%), têm menos vontade de mudar de empresa (38%) e demonstram mais produtividade e comprometimento com os objetivos da organização (18%). No mesmo sentido, um estudo conduzido pela Universidade de Harvard constatou que as empresas que investem em programas de bem-estar emocional observam uma redução significativa dos índices de stress e esgotamento profissional, além de uma melhoria geral no clima organizacional. Adicionalmente, o salário emocional desempenha um papel crucial na retenção de talento, visto que colaboradores que se sentem valorizados tendem a apresentar uma maior fidelidade à empresa, diminuindo assim a rotatividade.
E onde fica o papel dos líderes na promoção da felicidade organizacional?
Um líder pode influenciar, e muito, a felicidade e a motivação dos seus colaboradores. Eis algumas premissas a ter em conta:
1 – As pessoas apoiam aquilo que criam
Sempre que um líder pretende motivar alguém no desenvolvimento de determinado projeto, é importante envolver ativamente a pessoa nessa construção. Quantas vezes não vemos os colaboradores entusiasmados a dar ideias? – “Lembrei-me disto!”, “Isto também pode funcionar!”, “E se experimentássemos desta forma?” – Esta é a melhor ferramenta para gerar empenho e motivação nos colaboradores: envolvê-los e torná-los parte da criação da ideia/projeto. Só há motivação se houver participação.
2- É preciso “empoderar” com competências
Por vezes, os colaboradores mostram-se ativamente envolvidos em determinados projetos mas consideram não ter competências para os desenvolver. Então, se potenciarmos essas competências, dando-lhes formação, as ferramentas que necessitam de desenvolver e as tecnologias que precisam de dominar, mais facilmente teremos pessoas motivadas e confiantes no seu trabalho. Aqui o papel do líder é fundamental para que possam ser identificadas e colmatadas as necessidades formativas dos colaboradores.
3 – O líder como role model
Para que os colaboradores se sintam realmente motivados e comprometidos, é fundamental que vejam no seu líder uma pessoa altamente motivada e comprometida também. Um líder desmotivado, insatisfeito e pouco envolvido no trabalho dificilmente gerará um comportamento oposto nas suas equipas.
É também muito importante que este partilhe a sua própria jornada e as suas aprendizagens com os colaboradores. “Reinventar a roda” é desmotivante, sobretudo para as gerações mais jovens, que querem rapidez, ver resultados, fazer a diferença. Por isso mesmo, é fundamental que exista partilha de conhecimentos, aprendizagens, mas também de desafios sentidos pelos líderes ao longo da sua jornada. Líderes inspiradores geram colaboradores de sucesso!
Embora sejam vários os intervenientes na construção de todo este caminho rumo à felicidade corporativa, existem já empresas a contratar Happiness Managers para desenhar e conduzir este processo.
Happiness Manager… O que é isso?!
Apesar de o papel do Happiness Manager não ser ainda regulamentado, a sua presença nas organizações é crescente e muito importante. Ele é responsável por promover uma cultura positiva e alinhada com aqueles que são os valores e objetivos da organização, de forma a maximizar a satisfação geral das equipas. A sua função passa por compreender o que contribui para a felicidade e bem-estar dos seus colaboradores, promovendo, assim, o seu engagement com as suas funções e com a organização. Na Neotalent Conclusion, esta é uma missão inerente à área de People, sendo uma área focada no objetivo primordial de uma organização – o de garantir que os colaboradores estão felizes e realizados no seu local de trabalho.
Mãos à obra?
Estas e outras evidências convergem para uma conclusão irrefutável: a felicidade no trabalho é um fator crítico para o rendimento e produtividade dos colaboradores e, portanto, para o sucesso das empresas. Por isso mesmo, torna-se urgente desenvolvermos competências que nos tornem agentes de mudança positiva no mundo corporativo – só assim conseguiremos promover locais de trabalho com mais significado e carreiras profissionais com um propósito ainda maior.
Contamos contigo nesta missão? 🙂
Daniela Sousa, HR Business Partner at Neotalent Conclusion.
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