Nearshore em Portugal: tendência efémera ou que veio para ficar?

O conceito não é novo. Nearshore remete para a deslocalização de capacidade laboral para países próximos (não mais que 3-4 horas entre voos), cujos outputs assentem numa proximidade cultural, almejando indicadores de eficiência operacional, savings financeiros, elevada performance, escalabilidade do negócio e uma comunicação fluida entre as equipas destacadas.

Entre as indústrias que mais adotam esta prática, destacam-se, de forma incontornável, os IT Services (vulgo Software Development e outros). Somando aos fatores de atratividade próprios de cada país, aos desafios das tecnológicas na captação e retenção de talento (e crescente cisma sobre a “ Tendências inflacionistas e custo de vida são hoje também, mais do que nunca, indicadores fulcrais, para empresas que procuram noutro país a sua “Second Home”.

Portugal, mesmo vivendo numa controversa “bolha imobiliária”, tem vindo a consagrar a sua atratividade para os demais países. Foi o que senti há semanas no meu networking por dois eventos tecnológicos, em Amesterdão (TechEx Europe Expo) e Londres (Sifted Summit), e que se traduz na frase “Everyone wants to grab a piece of Portugal”. Inclusive, num painel sobre Deeptech neste último evento da capital inglesa, Andrea Traversone, responsável da Nato Innovation Fund (NIF), organização que funciona enquanto Early-stage Venture Capital de €1B para verticais como Inteligência Artificial, Biotecnologia, Espacial e outras, apontou Portugal como um alvo de investimento próximo pelos seus projetos disruptivos neste setor.

Porém, não nos deixemos ofuscar pelo presente. Outras nações contestam as suas ambições de prosperar nesta globalização do setor tecnológico. Como país e como marca, Portugal tem de continuar a investir em políticas sustentáveis que visem a captação de investimento estrangeiro e projetos de volume considerável na Economia Digital: por via de uma proliferação de um sistema fiscal atrativo para o Investidor, bem como na especialização do nosso talento (e contínua educação para aceleração de uma pool maior de profissionais). Num mercado sobreaquecido quanto o nosso, com oportunidades e desafios aqui e acolá, é fulcral que a estratégia das empresas seja tão “employee-centric” quanto “customer-centric”, evitando ganhos marginais (mas sim estruturais), assentes em planos a longo-prazo, culturas organizacionais fortes, colaborativas e inclusivas, modelos de gestão de carreira “tailor-made” ao recurso (humano) e à Inovação, enquanto motor central de diferenciação e eixo do seu ADN. Em particular, as tecnológicas (“Big Tech”, scale-ups ou start-ups em franca fase de hype), desempenham um papel importantíssimo nesta relação, pois alimentam de forma orgânica o ecossistema (um ímpeto entre empreendedorismo e R&D), impelem a comunidade com mais “mentes brilhantes” e impulsionam sinergias circulares entre empresas. O valor económico gerado é incontestável, se somarmos os índices colaterais de um Turismo tech, com um portefólio cada vez mais diversificado de conferências e eventos.

Destapando o véu a 2024, é imperativo considerar:

  • A proposta do OE 2024 e o incentivo fiscal à investigação científica e à inovação, cuja tributação fixa em 20% a taxa de IRS;
  • A crescente tendência pela adoção da “four-day workweek”, entre as tecnológicas em Portugal;
  • A explosão colossal de start-ups, especialmente aquelas que nutrem de “AI-driven models”;
  • À escala internacional, o investimento ininterrupto em Robotics e em Automação e a deslocalização de operações, como meio de subsistência à crise da cadeia de fornecimento.

Concluindo, creio que os sinais continuam promissores para o ano que vem. Porém, cabe a Portugal continuar a ser um catalisador de Inovação e traçar um roadmap munido de condições atrativas e características dificilmente replicáveis para acolher projetos tecnológicos. Para tal, nesta proposta de valor, urge forçosamente um traço de pioneirismo e ousadia, que tão bem nos define e remonta aos nossos antepassados descobridores. Se assim não for, não será o nosso extenso areal, o nosso Bacalhau nas suas centenas variantes ou o “desenrasque” que nos salvará. Veremos os nómadas digitais e os Tech Hubs tão rapidamente quanto se instalaram a deslocar as suas “raízes” para o lado.

Pedro Cabrita
Nearshore Business Development Manager
Iniciei o meu percurso profissional no lugar onde a criatividade mora (a Publicidade) e após vários briefings e insights sobre mercados, aterrei no efervescente e mutável mundo do IT, na vertente de gestão e desenvolvimento de negócio internacional. Pelo meio, contribui para projetos de “fast-growing start-ups” que em Portugal fixavam as suas operações. No lado pessoal, sou um recém-pai, cujo exigente exercício de funções fez a vida apossar-se do mais alto significado. Perfeccionista por natureza, tento conjugar de forma harmoniosa e epicurista um bom vinho a uns kms semanais de corrida.

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